Biografia de Luisa Ducla Soares:
Luísa Ducla Soares (Maria Luísa Bliebernicht Ducla Soares Sottomayor Cardia) nasceu em Lisboa a 20 de Julho de 1939. É licenciada em Filologia Germânica.
Iniciou a sua actividade profissional como tradutora, consultora literária e jornalista, tendo sido directora da revista de divulgação cultural Vida (1971-2).
Foi Adjunta do Gabinete do Ministro da Educação (1976-8).
Trabalha desde 1979 na Biblioteca Nacional onde é assessora principal e responsável pela Área de Informação Bibliográfica.
Colaboradora de diversos jornais e revistas, estreou-se com um livro de poemas, Contrato, em 1970.
Dedicada especialmente à literatura para crianças e jovens , publicou mais de meia centena de obras neste domínio.
Escreveu 26 guiões televisivos que constituem a série sobre língua portuguesa Alhos e Bugalhos.
Realizou o Site da Internet da Presidência da República para crianças e jovens (http://www.presidenciarepublica.pt/pt/main.html).
Tem escrito poemas para canções, tendo sido editado em 1999 um CD com letras exclusivamente de sua autoria musicadas por Susana Ralha. Intitula-se 25 por ser constituído por 25 canções e se integrar na comemoração dos 25 anos da Revolução de 25 de Abril.
Recusou, por motivos políticos, o Grande Prémio de Literatura Infantil que o SNI pretendeu atribuir-lhe pelo livro História da Papoila em 1973. Recebeu o Prémio Calouste Gulbenkian para o melhor livro do biénio 1984-5 por 6 Histórias de Encantar e foi galardoada com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua obra em 1996. [Fonte: http://www.app.pt/nte/luisads/bio.htm]
Poema “Sonho”
Montei um cavalo
que vi no terraço,
voei para o circo
e fiz-me palhaço.
Toquei concertina,
dancei ao compasso,
dei saltos mortais
através do espaço.
Com um macaquinho
pousado no braço,
a cada menino
eu dei um abraço.
Desci os degraus
do sonho do meu quarto,
caí sobre as coisas
de que já estou farto.
Em tudo o que sou,
em tudo o que faço,
já não resta nada
daquele palhaço.
[Fonte: http://www.app.pt/nte/luisads/mentiraverdade.htm]
Prosa ”O MEIO GALO”
A galinha pedrês da Senhora Inês tinha doze ovos para chocar.
O gato maltês da Senhora Inês tinha doze ovos para cobiçar.
Enquanto a Senhora Inês punha o milho na tigela, enquanto saía do ninho a galinha pedrês, veio o gato maltês e cravou a garra no ovo mais graúdo. Espetou as unhas, fincou os dentes, mas o ovo não havia maneira de partir. Então, por um buraquinho, pôs-se o gato a chupar, suga que suga, como quem bebe por uma palhinha, mas... zás, catrapás!
Deu-lhe a galinha bicada
Deu-lhe a senhora pancada
E ele escapou-se a miar.
Três semanas se deitou a galinha sobre os ovos. Ao cabo do tempo marcado, começaram os pintainhos a sair, redondos, amarelos - piu, piu, piu -, à roda da galinha pedrês.
Só um ovo faltava. Também esse, por fim, estalou e dele surgiu, pulando - sabem o quê? -, um meio pinto. Tinha meio corpo, uma só asa, uma só pata.
Pinto tão estranho nunca se vira nas redondezas. Vinha gente de quintas distantes para o conhecer. Desciam os pássaros das árvores para o verem melhor e até a vaca, a caminho do pasto, parava, mugindo, diante do fenómeno. O gato maltês ficava a ouvir as conversas, num ar de troça por bichos e homens, resmungando para com os seus bigodes: "Pena foi eu ter comido apenas metade... Inteirinho é que ele me tinha apetecido."
O meio pinto cresceu, fez-se meio frango, meio galo e, em breve, a sua meia voz de cana rachada acordava todos de madrugada. Tão guloso, vaidoso, pomposo que não lhe cabia a fama nas dez léguas em redor. Levantou a crista, empertigou o pescoço, gritando para quem o quis ouvir:
- Vou para o palácio real, pois sou o rei dos galináceos.
Saltando ao pé-coxinho se foi afastando, até que encontrou um regato parado, com o leito atulhado de troncos e folhagem.
- Vem cá! - pediu o regato. - Liberta-me, para eu poder continuar a correr!
- Tenho pressa, sou o rei
A ninguém ajudarei!
Ia o Sol a pique no céu quando ouviu o manso crepitar de uma fogueira:
- Estou em cinzas. Abana-me com a tua asa, que não me quero apagar!
- Tenho pressa, sou o rei
A ninguém ajudarei!
E, perna para que te quero, pôs-se a marchar. Ao cair da noite, sentiu um fraco gemido:
- Sou o vento que se enredou num silvado. Afasta com o teu bico as folhas para que eu possa soprar!
- Tenho pressa, sou o rei
A ninguém ajudarei!
Assim continuou seu caminho até ao palácio real.
Entrou pela primeira porta que encontrou aberta e pôs-se a cantar:
- Sou rei, sou rei, sou rei
Aqui me instalarei!
Sou rei, sou rei, sou rei
Aqui me instalarei!
Mas, por pouca sorte, metera-se na cozinha. O cozinheiro deitou-lhe a mão, pondo fim à cantoria.
- Se és rei, já vais reinar!
Atirou-o para uma panela pousada sobre o fogão.
- Salva-me, água! - piou o meio galo.
- Não me quiseste ajudar,
Agora vou-te afogar! - disse a água e cobriu-o.
Logo o fogo começou a saltar de um lado e outro, em labaredas…
- Salva-me, fogo! - piou o meio galo.
- Não me quiseste ajudar,
Agora vou-te queimar!
E assim foi.
Numa travessa de prata o levou o cozinheiro à mesa real.
- Que é isto? Meio galo? E, ainda por cima, todo estorricado!
Agarrando-o pela asa, o rei atirou-o pela janela fora.
- Salva-me, vento! - piou mais uma vez o meio galo.
- Não me quiseste salvar,
Agora vou-te empurrar!
E tanto, tanto soprou, com tal fúria de vingança, que o meio galo à torre mais alta foi parar. Agarrou-se com força, com a sua única pata, mas mesmo assim o vento o faz rodopiar.
Talvez esteja bem perto de onde tu moras. Não viste, por acaso, no cimo daquela torre, virando-se a mando do vento, um meio galo? Chamam-lhe o cata-vento: olhando para ele se sabe em que direcção sopra o vento.
[Fonte: http://www.app.pt/nte/luisads/meiogalo.htm#O%20MEIO%20GALO]
Trabalho efectuado por:
Hélder Coelho, nº 11, 5ºC
António Estevens, nº 2, 5º C
Carlos Deodato, nº 4, 5ºC